quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Negro

As marcas que as correntes conceberam,
na pele sensível, luzente e negra,
dos que perceberam,
que o que se faz luz de fato,
não se aplica ao colorido da tez,
marcou numa raça,
sintomas de desgraças,
que hoje ainda perspassam,
e se alojam em um sentimento magoado...
Que infelizmente ficou feito espinho encravado,
na história que a seguir se fêz...
Chamam-me tôsco...
Cor de nada.
Lusco-fusco, tez embaralhada...
Enfim,
em verdade vos digo que até hoje,
o açoite se abate sobre mim,
empunhado pelas leis,
idiotas e mesquinhas,
dos pulhas que se outorgam doutos,
no resolver abjeto de podarem seres soltos,
aprisionando-os,
e liberando seres alvos e esquálidos,
que finaciam o tráfico,
e matam com frieza e sordidez.
São os chefes da banca,
os que dão aos que destrói os corpos,
a verdadeira solidez...
Dinheiro cão!
Apossaram-se de nossas fantasias,
e fizeram-nos ervas daninhas...

A beleza da negritude,
não meneia e nem se permeia,
por definição,
na cor dos olhos,
pois que na realidade,
os vultos passados,
- horizontes inda em ebulição -
trazem para os meus olhos,
uma aguçada e marcante vermelhidão.
Mas hoje minhas pernas não bestificam o meu andar...
Hoje, o que se faz biltre,
vive em meio aos abutres,
e não consegue, assim como m'alma,
levemente volitar, tendo como parceira,
a brisa calma,
que uma cor abençoada me concebe,
e agora, compreendida a questão,
pelo Pai Imenso,
graciosamente me é concedida,
orgulhosa, frondosa, protegida...
Negro sou.
Negro tu.
Algo que arrasa os racistas,
pois que não alardeio a desgraça.
Pois que não sou masoquista,
e tampouco projeto facista,
do choramingar o que não faz por conquista,
e ao invés de questionar esses "porcos" pseudos-senhores,
vive pedinte a viver de favores.
Ser Negro,
na acepção da palavra
reside justamente no ato,
no qual brandamente,
desprezamos as bravatas,
e adentramo-nos por mundos somente nossos.
Refúgios,
não refugos.
Negro,
que hoje advinculado
ao que se faz sagrado,
constrói-se por si...

Luta ainda inglória,
a de constatar essa hedionda estatística,
que nos coloca como reis de forças místicas,
mas que não reproduzem em gráficos,
o número pelo menos aproximado,
dos que tombaram de forma sangrenta e covarde,
pelas inglaterras nobres e pobres...
Pelas espanhas sutis e carrascas...
Pelos portugais que hoje nos sorriem,
mas que antes nos decapitavam.
Pobres reis apátridas,
que desconheciam que nossas cabeças,
-sementes que são -
reproduz-se-iam,e multiplicadas,
criariam novas legiões,
que se covarde e sutilmente fossem tombadas,
regenerariam-se em células, refazendo-se de novo,
Força de povo,
nobreza igualada,
pois que sobreviveu,
sem comprar ninguém...
Sem se entregar ao estados "porcos" unidos.
Sem aceitar o rótulo de bandidos.
Os nossos pedaços são gens,
nacos que dão vida,
frutificam e honram a cor...
Negro,
talvez hoje admirado,
amado,
sei lá...
Mas negro, sim senhor...
Muito mais próximo ao conceito do ser humano,
do que ao do verdadeiro e exposto,
sem se esconder sob máscaras de gestos profanos,
mas colocado e posto.
Disposto.
Mesmo que a contragosto,
- dessa minoria que há muito deixou de ser dominante -
que tentou covardemente impingir à negritude,
uma vida sórdida, insolente, pedante,
de para sempre e sempre,
esmolar...
Negro sim por que não?
Algum problema "irmão"?


Josemir Tadeu

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Pingar paz em gotas

Será que está tudo indo bem?Será que tudo está normal?Nada mudou?

Muitas vezes tenho esses pensamentos me questiono se contribuo para a sociedade que vivo se faço a diferença se amo de verdade o meu semelhante se prego a paz ou se pingo em gotas, isso é algo que me faz muitas vezes rever meus conceitos e pensar se realmente vivo o que prego. Busquei em minha mente situações em que tive oportunidades de expressar o meu louvor através da criação me envergonho nem se quer uma vez me lembro de proferir um olhar terno e humano para um morador de rua, ou pra qualquer pessoa que seja, mas com verdade pelo amor real não hipocrisia, será que vivo a paz ou pingo em gotas, que diferença eu faço?

Hoje as pessoas buscam se "relacionar" por outros meios e a internet é um grande meio de se "relacionar". Na minha semana eu encontro em média uns cinco amigos ao todo, desses cinco amigos dois eu tenho mais contatos dos dois amigos um me liga o incrível é que tenho no meu Orkut mais de 100 pessoas e no Msn o dobro, 95% dessas pessoas nunca falaram uma palavra se quer comigo. Hoje as pessoas estão mais conectadas e muito mais individualistas.
É muito mais fácil eu mandar um Scrap coletivo desejando uma semana abençoada a todos os meus "amigos" do que ligar e abençoar verdadeiramente a semana de uma só pessoa.Será que tudo está normal?Nada mudou?
Qual é o meu papel?Trabalhar ser bem sucedido casar e formar minha família, ser fiel a minha esposa criar bem meus filhos?e o resto e o amor ao próximo será que está incluído no meu planejamento: viver o amor ou pregar em gotas?

Sou confrontado o tempo todo sobre isso, mudaram a minha vida e minha forma de pensar se eu não me propor mudar a vida do próximo irá estagnar a mudança, eu fui o próximo de alguém e esse alguém me mudou não com palavras, mas com atitudes. Não pare mude-se e mude os outros, não pingue o amor, a paz e a verdade em gotas não temos o direito, pois isso não é nosso não vem de mim nem de ninguém é dom de Deus, e que seja a todos.

Viva a poesia de Arroz e Flores:
"Arroz pra viver e Flores pra ter pelo o que viver."
Viva e tenha pelo o que.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O Navio Negreiro

V


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!


Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...


São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...


São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.


Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
...Adeus, ó choça do monte,
...Adeus, palmeiras da fonte!...
...Adeus, amores... adeus!...


Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.


Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...


Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Monologo de Orfeu

Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? Cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! Criatura! Quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo


Vinicius de Moraes

Ninguém?


Teve pai, teve mãe, mas não tinha ninguém,
Lobos a espreita de uma caça inofensiva
Que a sociedade considera temida.
Sempre descriminado, subjugado
O mundo fez um mostro de um pobre coitado,
O ser humano mata com armas
O ser humano mata sem armas
O ser humano mata e só mata.
E quem da à vida é o Criador.
O Amor cadê?Ninguém?
Caídos pelas ruas sem identidades
A cidade olha e não vê piedade,
Nunca viu compaixão e nem misericórdia
Escorre por meios fios vive a beira das sobras.
Coberto pela lua dorme acordado
Chora todas as noites sem alguém do lado
Às vezes se pergunta se isso vai mudar?
O mundo ta cruel e eu vou me arrastar.
O Amor cadê?Ninguém?
A vida é muito dura e o chão é frio
O inverno é pouco
A viver entre olhos vazios
O cheiro forte que domina
Nem da mais pra perceber
O coração podre, cego
De quem não consegue me ver
Ver não se resume em só olhar
E sim entender,
Que eu sou a mesma coisa que você.
O Amor cadê?Ninguém?

Willian Freitas